Saudade e Fé: A Jornada das Congadas de Catalão Continua – Por Lucas Machado

Em um fim de semana marcado pela devoção e pela emoção, a comunidade congadeira de Catalão mantém viva a rica herança cultural, homenageando líderes e unindo gerações rumo à grande celebração.

(Foto: Lucas Machado)

No fim de semana dos dias 24 e 25 de agosto, as congadas de Catalão deram mais um passo em direção à Festa do Rosário 2024, em um ciclo de ensaios marcados por profunda devoção, homenagens emocionantes e a união de uma comunidade que mantém viva uma das mais ricas tradições culturais do Brasil.

O sábado começou de forma solene na sede do Terno de Congo Sagrada Família. As atividades foram iniciadas com um terço, um ritual de fé e introspecção, seguido pelo levantamento da bandeira do terno. Esse foi, sem dúvida, o momento mais emocionante do fim de semana.

Este ano, a congada de Catalão sofreu uma grande perda: o Capitão Sr. Antônio Serafim, carinhosamente conhecido como Sr. Tonico, um líder respeitado e uma figura extremamente querida na comunidade. A ausência dele foi profundamente sentida, e isso se refletiu na atmosfera do ensaio. O terço foi carregado de emoção, e poucos conseguiram conter as lágrimas, especialmente quando uma nova música foi entoada em homenagem ao Capitão: “Saudades sim, tristeza não, Sr. Tonico foi embora, mas ficou no coração.” Esta canção ressoou como um tributo à memória de um homem que dedicou sua vida à preservação da congada em Catalão.

Ainda no sábado, acompanhado pelo General Eduardo, segui para uma visita ao Terno Moçambique Coração de Maria. Este terno, conhecido por sua ancestralidade e raízes profundas na tradição congadeira de Catalão, é a essência viva da fé e cultura da cidade. Estar ali foi como viajar no tempo, sentindo a energia e a força de um povo que carrega em si a herança dos seus antepassados.

Um dos momentos mais marcantes da visita foi encontrar a Rainha das Congadas de Catalão, Sr. Eloá Ribeiro, que, em uma cena que parece saída de um quadro, posou para uma foto ao pé de cajá-manga repleto de frutos. O General Eduardo, em sua sabedoria, comentou: “Essa fruta só amadurece quando a congada toca.” Essas palavras capturam a magia e a sinergia entre a natureza e a tradição, mostrando como tudo está conectado na cultura das congadas.

O domingo amanheceu com Catalão envolta na fumaça das queimadas que assolam o Brasil, mas nem o tempo seco e quente foi capaz de deter o espírito das congadas. O dia começou com uma visita à sede do Terno Vilão 2, onde a fé foi renovada através de uma oração liderada por Sr. Maria, a “mãezona” do terno, e pelo Capitão Pavão. A devoção transbordou, e após uma bela apresentação, o terno seguiu em cortejo pelas ruas da cidade, em direção à sede do Terno Catupé Amarelo.

No caminho, a população saiu às ruas para admirar a passagem do terno, que é sempre um espetáculo de cores, sons e devoção. Ao chegarem ao Terno Catupé Amarelo, fomos recebidos com a presença do Terno Moçambique Mamãe do Rosário, formando um trio poderoso que emocionou a todos os presentes. Os três ternos se uniram em um terço comovente, seguido pelo cortejo da bandeira, onde mais de mil pessoas acompanharam. Foi uma celebração de união, fé e resistência cultural.

O evento contou com a presença do Rei das Congadas, Sr. Cleiber, e da Presidente da Irmandade, Sr. Ana Cristina, que trouxeram ainda mais significado para o momento. O levantamento da bandeira foi a culminação de um dia de profunda espiritualidade.

Para finalizar a cobertura do fim de semana, me desloquei até o bairro Pontal Norte, enfrentando o caos das obras de duplicação da BR-050, que prometem progresso para a região, embora tragam transtornos temporários. Ao chegar, fui recebido pelo Terno Vilão São Jorge, que realizava seu ensaio.

O destaque da noite foi a fala do General Eduardo, que fez questão de valorizar a verdadeira irmandade entre os ternos. Ele ressaltou como a união das pessoas que amam as congadas fortalece essa tradição, e isso ficou claro com a presença de membros de outros ternos, que participaram do ensaio, sendo recebidos de braços abertos pelo Terno Vilão São Jorge. Essa demonstração de solidariedade e respeito mútuo abrilhantou a noite, que foi encerrada com chave de ouro.

Foram seis ternos fotografados neste fim de semana, cada um trazendo uma nova camada de emoção, história e fé. A cobertura da Festa do Rosário 2024 segue firme, e na próxima semana continuaremos a documentar e divulgar essa tradição que é o coração pulsante de Catalão.

Acompanhe nossas próximas publicações para mais histórias e imagens dessa jornada cultural e espiritual que só cresce em intensidade e significado.

Confira fotos de Lucas Machado:

Fotos e reportagem de Lucas Machado.

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