Operações da Polícia Federal revelam esquemas bilionários de fraude e ampliam pressão por mudanças na gestão pública

A crise no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se aprofundou nos últimos dias com a deflagração de novas operações da Polícia Federal que expuseram esquemas bilionários de corrupção envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e membros do alto escalão ministerial.
Na quarta-feira (23), a operação “Sem Desconto”, realizada em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU), desmantelou um esquema de descontos irregulares em aposentadorias e pensões, com prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. Um dos alvos da operação foi o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), que tem como vice-presidente Frei Chico, irmão de Lula.

O Sindnapi teve seu descredenciamento determinado e foi alvo de busca e apreensão. Em nota, afirmou apoiar as investigações e defendeu a transparência como princípio essencial para a defesa dos direitos dos aposentados.
As investigações revelam que entidades conveniadas ao INSS vinham realizando mensalmente descontos não autorizados em benefícios de segurados, prática que cresceu nos últimos anos — passando de R$ 413 milhões em 2016 para R$ 2,8 bilhões em 2024. A operação mobilizou cerca de 700 agentes da PF e 80 servidores da CGU para o cumprimento de 211 mandados de busca, seis prisões temporárias e bloqueio de bens avaliados em R$ 1 bilhão.
O impacto político foi imediato: o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, indicado em 2023 pelo ministro da Previdência, Carlos Lupi, foi demitido após ser afastado judicialmente junto a outros cinco servidores. O Instituto também enfrenta questionamentos no Tribunal de Contas da União (TCU) por tentar suspender recomendações para coibir fraudes.
Ministros investigados e nomeações controversas agravam desgaste
A crise não se restringe ao INSS. O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, foi formalmente acusado pela Polícia Federal de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa. As investigações apontam desvio de recursos destinados a obras de pavimentação no Maranhão, com benefício a propriedades da família do ministro. Juscelino nega as acusações e afirma ser alvo de perseguição política.
Outros ministros também enfrentam desgastes. O titular da Integração Nacional, Waldez Góes, foi nomeado apesar de uma condenação por peculato em 2019, com recurso pendente no Supremo Tribunal Federal (STF). Já a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, foi vinculada a indivíduos ligados a milícias no Rio de Janeiro.
Deterioração da imagem internacional
A sucessão de escândalos se reflete nos indicadores internacionais. Em 2024, o Brasil caiu para a 107ª posição no Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional, atingindo seu pior desempenho histórico.
Outros episódios recentes, como a presença de Luciane Farias — conhecida como “dama do tráfico amazonense” — em reunião no Ministério da Justiça, além do uso de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) por ministros para eventos privados, ampliaram as críticas à governança federal.
Risco institucional e desafios futuros
A sequência de denúncias envolvendo figuras-chave do governo e a deterioração dos mecanismos de controle interno apontam para a necessidade urgente de uma reforma nos processos de nomeação, fiscalização e transparência. A demissão de Stefanutto e a crescente pressão pública sobre ministros como Carlos Lupi evidenciam a erosão da confiança nas instituições públicas.
Especialistas alertam que a retomada da credibilidade institucional dependerá de medidas efetivas de fortalecimento da governança e de um compromisso real com a ética administrativa.