Sem alarde, nem vaidade, João Cláudio fez do jornalismo uma missão diária.
Discreto, detalhista e de fala baixa, passou os últimos 13 anos nos corredores e no plenário do Senado apurando para a maior emissora de televisão do país as crises políticas e as votações importantes que mudaram os rumos do Brasil.
Quando se inscreveu para o vestibular do curso de jornalismo da disputada UnB (Universidade de Brasília), nos anos 90, João mostrou apreensão em uma conversa com a tia Maria do Rosário, 71. Afinal, eram poucas vagas para muitos candidatos. Ele venceu e avisou a tia: “Vou trabalhar na Globo”.
João até arriscou a carreira de bancário. Passou no concurso do Banco do Brasil. Queria conciliar trabalho e faculdade para ter independência financeira. Não deu certo. Teve de desistir do banco para terminar o curso.

Da UnB foi cobrir o Congresso Nacional como um foca, apelido dado aos jovens repórteres, do Jornal de Brasília, de onde logo seguiu para a emissora de TV.
O jornalista dos ternos bem cortados e gravatas elegantes dizia não confiar nas notas taquigráficas das sessões parlamentares. Produtor das reportagens da TV Globo, Joãozinho, como era chamado pelos colegas, recorria às
gravações para certificar-se da fala dos senadores.
Ele trabalhava para uma emissora de TV, mas fugia das câmeras. A discrição se misturava com a gentileza com que tratava amigos de profissão, funcionários do Senado e políticos. Não precisava falar alto para fazer uma pergunta embaraçosa.
Nascido em Catalão (GO), João Cláudio foi estudar na capital federal e morar com a tia, irmã gêmea de sua mãe Maria Luiza, que recebia suas visitas na fazenda de Goiás, palco de pescarias e lazer com bichos. Quando não as levava para viajar, trazia na bagagem, de algum lugar do mundo, presentes idênticos para cada uma.
Tinha adoração pelos quatro gatos que o aguardavam chegar em casa e um vício (perdoável) pelos chocolates que levava para preencher a gaveta de sua mesa na sala de imprensa do Senado.
A paixão pela aviação o fez conhecer o mundo. Recentemente, havia sugerido uma viagem a São Paulo com os amigos do Senado. Não deu tempo.
Após 30 dias de internação, João Cláudio Netto Estrella não resistiu às complicações de uma pneumonia e morreu no último sábado (29), aos 38 anos
Fonte: Folha de São Paulo (Daniel Carvalho/Leandro Colon)
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